Pedro Melo's Blog

Oi! Bem-vindos ao meu blog! O meu nome é Pedro e sou Professor do 3 Ciclo/Ensino Secundário (Ciências Naturais; Biologia e Geologia. Aqui vou deixar alguns comentários, noticias ou trabalhos. Fiquem atentos!!! Espero que gostem! Pedro.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

(Esculpir em Silêncio)

Consegues ouvir a calma na tempestade?


Chove, venta, o tempo está cerrado; tempestuoso diria eu. As gotas de água parecem querer penetrar na mais cerrada cobertura, no mais pequeno dos orifícios… Eu estou em casa rodeado pela acalmia que as paredes me proporcionam, sem apanhar chuva longe da tempestade. No entanto ainda passa o desconforto da intempérie pelas frinchas das janelas e das portas. Procuro estar o mais calmo possível, e, quase intocável até então pela tempestade, invoco no pensamento o desafio de ir lá para fora, de sair para a tempestade mas sem me molhar.

Por estranho que pareça esta é uma lição que tenho vindo a aprender. Mas passo a ser mais específico.

Quando fazemos algo temos um propósito, um meio, uma forma de estar e de fazer assim como instrumentos, guias, projectos. Ou então não temos nada, não temos um propósito, não temos um meio, não temos uma forma de estar ou fazer, não conhecemos instrumentos, guias ou projectos.

Temos que descobrir novos instrumentos para trabalhar e assim começar aos poucos a compreender que é trabalho de nossa responsabilidade. Tal e qual como uma “pedra bruta e angulosa” que pode ser lapidada, e isso só é possível através da acção. Mas como toda a obra precisa de rigor, precisão, medida e equilíbrio, também nós precisamos de trabalhar para a rectidão das nossas acções e pensamentos, na precisão e aperfeiçoamento dos mesmos, de aprender a medir quer a acção tomada quer as consequências da mesma, aprender a conhecer as bases sólidas da construção do nosso próprio Eu. Um trabalho deve de se basear na sabedoria e ser complementado, tanto quanto possível, pelo Discernimento. Um trabalho vigoroso, forte na sua construção e execução, um trabalho que consiga contribuir para a beleza, como o talhar de um diamante bruto lhe pode atribuir um novo brilho, reflectindo assim a precisão da acção sobre ele exercida.
Mas, passando ao titulo do trabalho, o silêncio, porquê o silêncio? Para quê?

Tenho aprendido que o silêncio pode ser uma das formas mais importantes de começar um trabalho.
O silêncio é o ponto de partida para aprender não só a ouvir, mas também para aprender que existe uma “altura para falar”. Aprendi a conter a resposta imediata, a prender a minha reacção instantânea muitas vezes apenas suportada pelo que sentia no momento, dando assim tempo para poder ter uma opinião mais racional e logo mais madura. O silêncio permite também achar uma resposta mais interior permitindo o espaço para a meditação. Assim em silêncio começamos a aprender a mudar a nossa forma de ser pois aprendemos a controlar melhor os nossos impulsos e isso reflecte-se nas próprias acções.

Mas as nossas acções silenciosas não deixam de ter um carácter dinâmico. O silêncio não significa estagnação. O silêncio significa sim contenção e reflexão, introspecção e controle. O silêncio é assim umas das vias para o auto-conhecimento, pois através dele podemos conter respostas imediatas as quais, não proferidas, nos permite analisa-las e assim compreender a nossa própria forma de responder aos estímulos. Aprendemos a ver para o interior de nós próprios e a aprendemos a discernir.

Ora assim podemos também ver que um trabalho em silêncio não significa ausência desse mesmo. O desafio torna-se sim o de evoluir e trabalhar deixando para trás o caminho sinuoso e “barulhento” proporcionado pela “Ilusão” (Maya) que inflama os nossos sentidos (que também são uma forma de percepcionar o Mundo e não “A Forma” de o fazer – sim, os sentidos também nos ocultam a Realidade).

Mas quantas vezes já não olhamos para trás e vimos o quanto mudamos, ou pelo menos, que o esforço que temos feito muitas vezes levam a acções que possivelmente não as faríamos? E quantas dessas vezes nós vemos que essa mudança se deu sem nos apercebermos, ou seja, silenciosamente no nosso interior? É também assim que muitas das nossas acções trabalham, com uma face visível e consequências imediatas, e silenciosamente no nosso interior a pouco e pouco lapidando a nossa própria pedra bruta.

Não posso deixar de compartilhar uma ideia que fui construindo um dia à noite. Simplesmente quando olho para ela, parece que lá se resume não só aquilo que disse até agora, como muito mais, uma vez que tentei nela incutir algumas palavras que nos podem remeter para muitas outras ligações, noções e até algum simbolismo… o mais engraçado é que tenho a sensação que a explicação de cada uma dessas frases me leva a um novo sentido e significado que me diz cada vez mais. Assim, deixo simplesmente o pequeno parágrafo que construí, sem explicar que outras palavras poderia usar, ou o simbolismo que dou aquelas que utilizei, pois sei que cada um, em silêncio, ouvirá o que tenho a dizer e verá uma imagem que é só sua, mas que ao discutir, mostrará muito mais do que qualquer um pensa… pelo menos assim o espero:


“Sobe assim silenciosamente a Escada. Que esta te leve sempre em direcção ao topo onde e quando, ao meio-dia, o Sol já te deixou para trás, pois trabalhavas em não mais que uma projecção de Ti próprio. E é a Ti próprio que compete continuar a perseguir a Verdade e alcançar a Luz pois o trabalho é sempre incessante e há algo novo sempre para aprender”


Pedro

8 Comentários:

Blogger Misterious_Spirit disse...

Gostei do texto e o último parágrafo está muito bom.
Concordo com a maior parte das ideias nele transmitidas,embora ache que se devesse encontrar aqui um ponto de equilibrio. Muitas vezes o silêncio é o melhor caminho para a verdade uma vez que nele encontramos a calma e harmonia necessárias à boa meditação e percepção da vida. Apenas acho que não devemos sempre conter as nossas acções, emoções e palavras pois dessa forma tornar-nos-emos demasiado racionalistas e isso impede nos de viver a vida na sua plenitude! É muito importante descobrires uma melhor forma de utilizares o teu silêncio,não para calculares tudo à tua volta,como parece estar a acontecer,mas para caminhares em direcção a uma melhor expressão de ti próprio.Devías,portanto, escolher as melhores alturas e maneiras de fazeres um bom uso desse teu silêncio,que de facto é muito importante e um bom aliado na DESCOBERTA DE TI PRÓPRIO! ;)
Parabéns pelo texto,escreves muito bem,a sério! Beijos

11:23 da tarde  
Blogger Pedro Melo disse...

Eu concordo contigo, é como digo la para o meio... em certos momentos é bom usarmos o silencio mas noutros nem tanto!

Aliás acho que o silencio por vezes pode ser mau... se o certo é ir em frente e "falar" e simplesmente ficamos quietos.

Daí concordo contigo Misterious Spirit!

Obrigado pelo teu comentario (com o qual já foi possivel acrescentar mais este bocadinho!)

11:30 da tarde  
Blogger Beruska disse...

Após um dia (merecido) de descanso, estou em condições (psicológicas) de comentar este teu texto...

De facto, concordo com tudo o que aqui dizes... só tenho pena de nem sempre ser capaz de "ouvir" o silêncio no meio de todo o barulho da sociedade em que vivemos...

6:15 da tarde  
Blogger Jorge Moreira disse...

Este texto foi inspirado e é inspirador.
A Voz do Silêncio...
A pedra que deve ser talhada e aperfeiçoada constantemente, para que a Obra surja com todo o esplendor.
Gostei.
Grande Abraço e bom Carnaval.

12:40 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Este texto é tão lindo e tão cheio de significado que não podia comentá-lo sem que fizesse alguma introspecção.
De facto, não somos pedra rasa, mas somos "pedra bruta e angulosa" que vai sendo lapidada ao longo da nossa existência. Os vários silêncios que fazemos são importantíssimos para o desenvolvimento. Não é por acaso que a adolescência é tão complicada. Existem muitos silencios internos que, quando emergem assustam, precisamente porque algo mudou e não era esperado. As questões a si próprio começam a intensificar-se, agora sim... os silêncios manifestos servem para lapidar essa pedra que, a pouco e pouco vai sendo esculpida. É assim, bastante importante e intrínseco o silêncio, seja ele manifesto ou latente, faz parte da linha da evolução.
ADOREI!!!!!

Ps: Claro que o Pedro pode fazer link do meu espaço, terei todo o prazer. :)

2:17 da tarde  
Blogger Isabel José António disse...

Foi no silêncio do TUDO e do NADA que tudo começou. Ainda se desenrola e irá certamente continuar. Somos um pequeno fragmento desse TUDO e desse NADA. Quando nos conseguimos sintonizar no mesmo comprimento de onde desse pulsar eterno, como quem sintoniza um posto de rádio, ouvimos em nós a VOZ do SILÊNCIO que connosco fala continuamente.

Nesse momento abrem-se todas as possibilidades.

Muito boniyo o teu texo.

E um abraço de companheiros de descobertas.

José António

10:07 da manhã  
Blogger Isabel José António disse...

Pedro!

Que magnífico texto! Iniciático, medido, equilibrado, inspirador!
Ainda bem que começaste a brindar-nos cada vez mais com teus textos, para além das tuas fotos...

Um abraço desta "Companheira de Jornada" -Isabel

2:49 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

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11:42 da tarde  

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